quarta-feira, 5 de maio de 2010

Mágica no parque

Era um domingo movimentado no Parque do Ibirapuera. João, uma criança insatisfeita e mimada de 09 anos, está acompanhado de seus pais, Alberto e Nilma, um típico casal em crise conjugal prestes a se separar.
As constantes brigas dos pais sempre acabavam por estragar os passeios em família, e João, ansioso pela apresentação de mágicas que iria acontecer, assistia com nervosismo a mais uma discussão de seus pais, e nem percebeu que a situação se agravaria ainda mais com uma brusca mudança do tempo.
Fortes trovões anunciaram o início de uma tempestade, nuvens pretas e baixas formaram-se rapidamente, com ventos que arrastavam as barraquinhas de comércio e encerravam por completo a possibilidade do espetáculo acontecer. Inconformado, João via o tumulto das pessoas tentando se protegerem, quando seus olhos se voltaram para um jovem casal apaixonado, que alheios a tudo passeavam na chuva - naquele momento já torrencial.
Sendo puxado pelo braço forte do pai em direção a um abrigo, João não tirava os olhos daquele casal, lembrando-se da história que uma tia havia lhe contado sobre o início do namoro de seus pais, justamente no parque do Ibirapuera, num domingo, sob uma chuva de verão. Com esse pensamento, João soltou-se bruscamente do pai e sai correndo, sumindo rápido por entre a multidão.
Nilma ficou desesperada ao perceber o sumiço do filho e passou a acusar ferozmente Alberto pela negligência, que por sua vez ficou extremamente irritado com mais essa travessura do garoto, prometendo uma boa sova tão logo o encontrasse e chegassem em casa. O mau tempo se agravava, o dia escureceu transformando-se de repente em noite, e a busca pelo menino tornou-se mais preocupante, fazendo com que o casal se concentrasse e interrompesse a discussão, que já não mais fazia sentido naquele momento.
Cansada e com frio, Nilma começou a chorar e a soluçar, sendo, aos poucos, carinhosamente, consolada por Alberto que, aninhando-a em seu peito a envolveu pelos braços. O casal ficou por algum momento naquela posição, imóvel, quando Alberto, acariciando os cabelos de Nilma, lembrou-a do início deles, ali, naquele mesmo bosque. Nilma sorriu com a lembrança – éramos tão jovens... – e apaixonados – acrescentou Alberto, fixando-se em seus olhos.
Enquanto isso, João, escondido entre as frondosas árvores do parque, acompanhava feliz a cena de amor de seus pais - completada, naquele momento, por um ardente beijo. Sentindo-se totalmente realizado, João conseguiu, ele próprio, realizar uma grande mágica.

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